NO INTERVALO

Ainda não houve presidente eleito, as eleições estão no intervalo, mas já há um claro vencedor: o Sport Lisboa e Benfica.
Vencedor pela impressionante participação que, confesso, até me comoveu. Vencedor pelo civismo manifestado pelos mais de oitenta mil votantes. Vencedor pelo incansável trabalho de tantas e tantos benfiquistas espalhados pelas várias secções de voto no país e no mundo. Vencedor pelo fair-play demonstrado por todos os candidatos, sem excepção.
Ficou também claro que o Benfica real, profundo, que move paixões nas mais variadas geografias, idades e estratos económicos, pouco tem a ver com o das redes sociais,  ou com o de alguns grupos circunscritos que acham que o clube é apenas deles.
Não é, e isso ficou demasiado evidente. Aliás, a própria representatividade das AG resulta de algum modo ferida, e a carecer, pelo menos, de uma reflexão - como aqui escrevi no momento próprio. Mas isso deixarei para mais tarde.
Haverá tempo para falar da segunda volta. Pelo meio há jogos importantes a ganhar. E aí todos os benfiquistas terão de deixar as eleições numa prateleira, tal como fizeram, como fizemos, ontem durante noventa minutos. Também aí o Benfica venceu: no relvado e nas bancadas.
Viva o Benfica!

DIA DE FESTA

A magnífica manifestação de benfiquismo vivida ao longo do dia merecia um resultado assim.
Não se viu uma exibição do outro mundo, houve alguma felicidade no penálti madrugador, mas 5-0 são sempre 5-0.
Das mexidas realizadas pelo treinador, Prestianni foi quem mais se fez notar. Sou fã do miúdo, em quem vejo um extraordinário talento, que, espero, ele saiba aproveitar para se afirmar na equipa e na carreira.
Mas o homem do jogo foi naturalmente Pavlidis, pelos golos - que podiam até ter sido mais. 
Realce também para a entrada de Ivan Lima, no qual Mourinho parece depositar grande esperança. 
E pronto. Não há muito mais a dizer deste jogo. São 22.46h e todos estamos já a pensar noutra coisa.

GANHE QUEM GANHAR, VIVA O BENFICA!

Impressionante a manifestação de benfiquismo que este dia está a proporcionar.
Tinha aqui escrito que, independentemente do vencedor, seria tão benfiquista amanhã quanto era ontem. Mas não: serei ainda mais!

CINQUENTA VOTOS NO DEZ

Mais uma oportunidade para mostrar que, com o conhecimento adquirido, se vai fazer melhor.

Onze para o Arouca e para um dia à Benfica: Trubin, T.Araújo, A.Silva, Otamendi, Dahl, Enzo, Rios, Lukebakio, Schjelderup, Sudakov e Pavlidis.

PONTAS SOLTAS, GOLPES DUROS

Já falei do debate em sentido mais lato. Já disse que, quanto a mim, houve um vencedor inesperado, dois que se saíram bem, outros dois que, coitados (sem ofensa), se saíram mais ou menos como se esperava, e um claro derrotado: Noronha Lopes.
Se forem aos arquivos mais recentes, poderão reler que Noronha sempre tem sido, e teria sido, a minha segunda opção, caso Rui Costa não se recandidatasse. Digo agora que, depois deste descalabro televisivo, terá descido duas posições na minha lista. Passou para trás de um Vieira que ainda está ali para as curvas, pelo menos em capacidade negocial e de obra (um amigo disse-me com graça, que se os casos judiciais tivessem terminado, a bem ou a mal, podia estar ali o nosso Isaltino), e passou também para trás de João Manteigas, que pese embora a inexperiência, a mais do que duvidosa capacidade de liderança e algum populismo, pareceu, de facto, conhecer muito melhor o clube por dentro do que Noronha.
Lembro algumas pontas soltas do debate, que, no meu ponto de vista, muito contribuíram para a conclusão que me sinto obrigado a tirar:
58 DIAS - Entre muitas desvantagens, a vantagem de envelhecer é que nos lembramos de muita coisa. E eu lembro-me de Noronha Lopes (cujo nome nunca me foi estranho: é da minha terra, conheço familiares) entrar e sair, de forma fulminante, do Benfica. Lembro-me que ele, tal como aliás Vilarinho (em quem votei praticamente sem conhecer, pois na altura valores mais altos se levantavam), eram contra a construção de um novo estádio. Foi Vieira, com Mário Dias (o então injustamente apelidado de "lobby do betão"), com apoio do BES, da Somague, da Câmara Municipal, da UEFA (em contexto de Euro2004), que insistiram, convenceram Vilarinho, e avançaram. Ainda bem.
Não há mal nenhum em ter sido contra a construção do estádio. Teria sido um erro não o construir, mas eu próprio na altura, com o Benfica afundado em dívidas, tive algum receio desse projecto. Embora apenas dipusesse da informação que estava nos jornais, e Noronha estivesse lá dentro.
Mas não é coerente acusar os diretores financeiros de Rui Costa de saírem do clube passado pouco tempo (e foram apenas dois, não cinco como demmagogicamente afirmou), e o próprio Noronha ter tido uma passagam tão veloz e insignificante pelo Benfica - pelo qual, aliás, só voltou a interessar-se em 2020, após o que se seguiu nova hibernação até há uns meses atrás.
Não sei se foram 58 dias, 59, ou 61. Sei que Noronha ficou sem resposta. Ironicamente, eu diria, abananado...
NUNO GOMES/PROENÇA - Foi outro momento bastante singnificativo do debate. Afinal, uma das maiores fragilidades de Rui Costa (e que também lhe aponto, sempre apontei e voltarei a apontar) está igualmente no âmago da candidatura de Noronha: o seu vice-presidente para o FUTEBOL foi um entusiasta apoiante de Pedro Proença. Ele que também sofreu, em campo, até durante mais tempo do que o próprio Rui Costa, com as diatribes do antigo árbitro. Eis mais uma situação em que Noronha Lopes teve de engolir o seu ar altivo. Quem diz o que quer, ouve o que não quer.
ESTRUTURA PESADA - Do que conheço do futebol, sempre me foi bastante claro que as estruturas de decisão numa equipa têm de ser tão reduzidas quanto possível. Um presidente, um director, e um treinador (naturalmente com assessores ou adjuntos, conforme o caso, mas sem poder de decisão). Caso contrário, aumentam os riscos de incompatibilidades, inflamam-se egos, perde-se a reserva da informação interna, e dilui-se a autoridade. Para tomar uma decisão rápida, eficaz e discreta, não pode ter de se falar com cinco ou seis pessoas, nem fazer-se reuniões por tudo e por nada. Ora Noronha Lopes não tem outra coisa para apresentar senão uma estrutura pesadíssima, com muitas  pessoas, muitos cargos - alguns sem que se perceba bem para que funções em concreto -, tudo gente muito qualificada (não o ponho em causa), mas, também por isso, pouco habituada a ser contrariada, e talvez propensa a algum protagonismo. Todos os restantes candidatos lhe apontaram esse problema, sem que ele conseguisse escapar-se do interior do seu próprio equívoco. Um clube de futebol não é como outra empresa qualquer. Pelo mediatismo, pela paixão, pelo tipo de pessoas com quem terá de negociar, pelo tipo de funcionários etc. Se Noronha for presidente, e insistir em acumular nomes e cargos à sua volta, talvez para se esconder atrás deles, as coisas irão fatalmente correr mal.
AUSÊNCIA DE OBJECTIVOS - Noronha queixa-se muito do Benfica ter conquistado poucos títulos neste mandato, mas também não apresenta nenhuma proposta concreta que nos faça pensar que com ele "é que vai ser". Apenas lugares comuns, o que também foi notado por outros candidatos. Até Cristóvão Carvalho, com a sua megalomania, ao menos disse o que queria (um título europeu em sete ou oito anos) e o que não queria fazer (desde logo não queria gastar dinheiro em infraestruturas). Martim Meyer agarra-se ao não-sei-quantos Joncker (?). Vieira tem a sua obra a falar por si. Rui Costa é o incumbente. Manteigas também é evasivo quanto ao futuro, mas não tão insistente na tecla do palmarés. 
Todos nos queixamos de ganhar menos do que queríamos. A questão não é se ganhámos pouco ou muito (todos achamos que foi pouco). A questão é como, e o que, se vai fazer para ganhar mais. Um candidato a presidente dizer que quer ganhar mais, não é nada. E se for eleito, cheira-me que a meio do mandato as contas serão reprovadas duas vezes...
CFO EM PART-TIME - Já ouvi, já li, que se vai dedicar ao Benfica de alma e coração, a 200%, e por aí fora. Toda essa manifestação de vontade carece, a meu ver, de clareza. Afinal, o CFO do Benfica assim como outros dirigentes para outras áreas, vão estar ou não a full-time no clube? Vão manter, ou não, outras actividades por fora? Não fiquei nada convencido, sendo que o Benfica (todo o futebol profissional) já não é o de tempos antigos, quando o presidente ia à Luz ao fim do dia assinar cheques e pouco mais. Foi algo com que o candidato Noronha também foi confrontado, e pelo menos neste debate não conseguiu responder de forma convincente.
POSTURA ALTIVA - Em entrevistas Noronha Lopes até tem parecido simpático e sorridente. Ao ser contrariado em directo, ao ser confrontado com o seu desconhecimento do meio onde se quer meter, ao ser desmascarado em algumas das suas bandeiras de campanha, Noronha visivelmente irritou-se, e deixou o pé aristocrata resvalar para o chinelo. Todos os outros candidatos, mesmo os mais, diria, "pequenos", optaram por nunca esquecer que aquela era uma montra para o debate de ideias, mas também uma reunião de seis benfiquistas. Nisso Manteigas foi inteligente e, sentindo-se talvez acossado pelos acontecimentos da última AG, apareceu como devia: um benfiquista entre benfiquistas. Já Noronha passou o tempo  das suas intervenções virado para Rui Costa, com ar altivo, arrogante e desafiador, interpretando ali, ao vivo e a cores, uma espécie de benfiquismo - que se vê nas redes sociais, que se vê nas caixas de comentários (até aqui...), que se vê, infelizmente e sobretudo, nas AG - segundo a qual o clube é uma arena para confronto político. 
Logo de entrada pareceu nervoso. à medida que a noite avançava, à medida que era desmascarado por todos os restantes (houve momentos em que Vieira e Rui Costa até sorriam), entrou num caminho sem saída. A noite estava perdida. A eleicção? Vamos ver.

QUEM TEM MEDO DO VOTO ELECTRÓNICO?

Um grupo de jovens que vive nas redes sociais, mas que tem poucos anos de Benfica (nem sabe o que o clube foi realmente em TODO o seu passado), nunca percebeu porque motivo a maioria dos sócios (sobretudo os mais antigos, que não vivem nas redes sociais) escolheu Vieira em 2020.  Daí até se criar uma narrativa segundo a qual os resultados haviam sido falseados foi um pequeno passo. Gerou-se então, entre essas franjas, uma desconfiança exagerada quanto à credibilidade do voto electrónico.
Permitindo os novos estatutos o voto electrónico (desde que todos os candidatos concordem), Noronha e Manteigas recusaram essa possibilidade, e assim a inviabilizaram. Percebe-se porque motivo: sabem que a maioria do povo benfiquista não está com eles. Sabem também que os seus apoiantes são os mais fáceis de mobilizar para ir à Luz (por serem mais jovens, por viverem na grande Lisboa, por serem do contra, e o contra é sempre mais empolgante). O que é certo é que esta impossibilidade impede um número muito significativo de sócios de participar nas eleicções, e isso vai retirar força a quem for eleito. Vai retirar força ao próprio clube.
Conheço várias pessoas, algumas com 50 votos, que não vão poder votar. Ou porque estão no estrangeiro (e o número de casas é reduzido, obrigando a longas viagens que nem todos podem fazer), ou porque têm compromissoss profissionais ou pessoais nesse dia. Se pudessem exercer o seu direito via telemóvel - a mesma via pela qual todos fazemos transferências bancárias, e gerimos as nossas contas e pagamentos -, a participação seria muito maior, e a ligitimidade e a força do novo presidente também.
Aliás, as urnas, espalhadas pelo país, são, quanto a mim, um processo menos seguro quanto a eventuais tentativas de fraude. O voto electrónico apenas teria de ser supervisionado e certificado por uma empresa independente, o procedimento auditado por membros de todas as candidaturas, e quer Noronha, quer Manteigas, sabem muito bem disso.
Dizem que os países não elegem os políticos electronicamente. Ora em eleições políticas há urnas em todas as freguesias do país, e temos de perceber que há pessoas que não sabem ler, que não têm telemóvel ou computador, e devem, naturalmente, poder votar. Num clube, tudo isso é diferente, desde logo a impossibilidade de colocar urnas em todas as freguesias. Além de inúmeras outras questões que seria fastidioso trazer para aqui.
Eles também sabem disso.
Na verdade, o que está em causa é a tentativa, conseguida, de impedir de votar uma grande parte do povo benfiquista, que vive longe de Lisboa, que tem mais idade (logo mais votos), e que tenderia, até sociologicamente, a ser mais conservadora. 
Noronha e Manteigas tiveram medo do verdadeiro benfiquismo. E sabem que as suas hipóteses estão na mobilização em peso da malta dos Whatsapps - que embora gritem que o Benfica é deles, não são, longe disso, representativas do verdadeiro pulsar do clube no país e no mundo. 

ALGO SURPREENDENTE

Não dava muito pelo debate entre todos os candidatos. Primeiro porque são muitos (a dois ou a três seria sempre diferente), depois porque em debates televisivos, como aqui já escrevi, nem sempre a razão consegue derrotar a lábia. Devo dizer que o debate da BTV me surpreendeu em dois planos (além das quase quatro horas de duração...). 
Primeiro o nervosismo de Noronha Lopes, que é normalmente um bom entrevistado, mas apareceu esta noite (com contraditório) bastante inseguro, errático, e sem argumentos para algumas questões levantadas, não só por Rui Costa, como pelos restantes candidatos (alguns, é certo, disputando o mesmo eleitoriado com ele, numa perspectiva de segunda volta).
Segundo,  pelo conhecimento do clube revelado por Manteigas, e que demonstra que o rapaz tem, de facto, trabalhado bem a sua candidatura.
Gostei da tirada do Ciclismo, que é uma modalidade que me diz muito. Mas também da serenidade, e acompanhamento da vida interna do clube, contrastante com a postura de Noronha.
Disse aqui, e não só,  que se Rui Costa não vencesse a eleicção, entre os restantes preferia Noronha Lopes. A escolha de Nuno Gomes desde logo não ajuda, mas fiquei preocupado com a confusão estrutural que não conseguiu explicar, com a total ausência de propostas (apenas lugares comuns e criticar tudo o que está) e com a postura algo altiva e arrogante - que esperava de Manteigas, mas não dele.
Se esta foi uma oportunidade para conhecer melhor os candidatos, diria que fiquei profundamente desapontado com Noronha, e se calhar Manteigas não é assim tão mau, nem tão frágil, como eu próprio o pintava.
Se alguém ganhou o debate foi, tenho de o reconhecer, João Manteigas, embora Rui Costa esteja claramente (já estava) uns degraus acima. Vieira também se salvou. Quem perdeu, não tenho dúvidas, foi Noronha Lopes.
O meu sentido de voto já estava definido, e mais definido ficou: Rui Costa sabe mais de futebol e de Benfica a dormir, do que a maioria dos outros acordados (excluo desta equação Vieira). Noronha, aliás,  pareceu-me até aquele que (à excepção de Carvalho) sabe menos, e tem menos noção das especificidades do meio.

DEZ VITÓRIAS, UMA DERROTA

Em 1994 votei pela primeira vez em eleições do Benfica. Daí para cá, nunca me abstive. Nas onze eleições realizadas, o "meu" candidato só perdeu uma vez - e hoje toda a gente concordará que foi mesmo pena ter perdido...
Tenho orgulho em todos os meus votos, particularmente nos de 1998 e 2000. Festejei a vitória de Vilarinho como se de um título se tratasse, e como não mais voltei a festejar noites eleitorais.
Com os dados que tinha à época, não me arrependo de nenhuma das minhas opções. Em 2012, 2016 e 2020 fiz mesmo parte da Comissão de Honra da candidatura de Luís Filipe Vieira. Com o que sei hoje, acho que Vieira terá feito um mandato a mais, e talvez em 2020 me tivesse abstido - da Comissão de Honra e do próprio voto.
Mas não deixa de ser curioso observar que o "vieirismo", tão atacado, tão vilipendiado - sobretudo nas redes sociais, menos entre os verdadeiros benfiquistas - tivesse obtido sempre votações tão expressivas, algumas delas sem que aparecessem, sequer, opositores.
Veremos o que acontece em 2025. 

FAÇA VOCÊ MESMO

Veja com que candidato se identifica mais em Benficómetro Record

Eu já fiz o meu teste. Deu o seguinte resultado:

TUDO PARA O LIXO

O Benfica ganhou oito Taças da Liga. Mais do que Sporting e FC Porto juntos. Esta é pois uma competição que tem sido, genericamente, feliz para os benfiquistas. Eu próprio assisti a várias finais ao vivo, com estádios completamente cheios e com muita vibração - com alguns erros de arbitragem célebres, também.
Se esta é uma prova que o Benfica tem ganhado muitas vezes, o que fazer então? Acabar com ela.
É a proposta de Noronha Lopes, que certamente não sentiu nada quando Trubin defendeu o penálti decisivo em Leiria, quando Quim foi herói no Algarve, ou quando, também no Algarve, goleámos um FC Porto então tetra-campeão nacional. Já agora também não deve ter vibrado com a primeira vitória de sempre frente ao Bayern de Munique, pois é igualmente contra o Mundiial de Clubes.
De tudo o que Noronha Lopes propõe, esta parace-me mesmo a medida mais estúpida. Que há jogos a mais, concordo, mas não são certamente as meias-finais e as finais das Taças da Liga, quase sempre "Clássicos" de grande mediatismo. São, isso sim, os Aroucas-Tondelas ou os Casa Pias-Aves do Campeonato.
É verdade que ele também defende, e aí bem, a redução de clubes na primeira divisão (boa sorte com isso, quando tiverem de ser os pequenos a votar a sua própria renúncia à mesa dos doces). Mas querer deitar fora a Taça da Liga, e os oito troféus conquistados pelo clube, não faz qualquer sentido.
O FC Porto quis, durante muito tempo, desvalorizar a prova. Entende-se porquê. O Benfica querer acabar com ela, é uma alucinação.
Se for para acabar com alguma coisa, acabe-se então com a Supertaça, de muito má memória no passado. E porque não com a Taça de Portugal, de má memória no presente? Pensando bem, para que serve afinal o próprio futebol?

MASSACRE

A última imagem é a que fica, e o Benfica acabou o jogo de gatas, completamente desnorteado e correndo sérios riscos de sair de St. James Park com uma goleada humilhante - que, de resto, só Trubin evitou.
A verdade é que até ao 2-0, obtido aos 70 minutos, o jogo não tinha sido bem assim. Houve sempre mais Newcastle,  é certo, mas o Benfica foi dividindo a partida, e na primeira parte teve mesmo, porventura,  melhores oportunidades de marcar do que o seu adversário. Era então Lukebakio o homem em destaque. 
Até aos 70 minutos era sobretudo a eficácia que fazia a diferença. 
Depois... a equipa encarnada perdeu a cabeça, o que revela que há muito trabalho mental para Mourinho fazer com estes jogadores, grande parte deles bastante jovens.
Veio também ao de cima a diferença abissal entre aquilo que é hoje a Liga Inglesa e a nossa paupérrima liguinha portuguesa. O ritmo, a capacidade de acelerar o jogo, a organização de uma equipa que mantém o treinador há vários anos, e três ou quatro ou cinco craques muito acima da qualidade individual de qualquer jogador do Benfica, evidenciaram essas diferenças. Mesmo uma equipa do meio da tabela na Premier League é claramente superior a um candidato ao título em Portugal. Os orçamentos também não enganam.
Enfim, na Champions acontecem estas coisas: quando alguém falha é duramente castigado. O Nápoles levou seis, o Leverkusen levou sete e o Atlético de Madrid levou quatro. Três equipas dos "Big Five", todas elas com orçamentos incomparavelmente maiores que o do Benfica - cujo resultado, no meio desta jornada louca, acaba por passar despercebido.
As contas não estão fáceis. Mas ainda acredito no 24°lugar (que neste momento tem 2 pontos). Claro que é absolutamente obrigatório vencer o Leverkusen na Luz. 
Em semana eleitoral, muita gente vai querer misturar um jogo de futebol perdido em Inglaterra, com toda a gestão de um clube ao longo de quatro anos. É humano. Mas espero que até sábado as cabeças esfriem, e as escolhas sejam ponderadas.

PONTOS PRECISAM-SE

Tivesse o Benfica ganhado, como devia, ao Qarabag, e um empate em St.James Park seria perfeito. Assim, saberá a pouco. Em todo o caso, e numa perspectiva mais anímica do que matemática, não perder este jogo será importante para tudo o que vier a seguir.
 

OUTRA PERGUNTA É:

Que garantias há que, com Noronha Lopes, o Benfica passe a ganhar mais campeonatos? O FC Porto e o Sporting vão deixar de participar? Vamos contratar o Mbappé e o Yamal? Ou o Luís de Matos?

A PERGUNTA É:

O Benfica está, ou não, melhor do que em 2021? 

FUTUROLOGIA

2025: Noronha ganha as eleições e torna-se presidente do Benfica, gerando grande entusiasmo numa parte dos adeptos.
2027: Depois de perder dois campeonatos seguidos ficando em terceiro lugar (Nuno Gomes a director desportivo lol, e Bernardo Silva a fazer de Di Maria), cresce novamente a contestação das facções mais radicais.
2028: As contas são chumbadas duas vezes, em AGs manipuladas pelos grupos de Whatsapp do Manteigas. Nos termos dos novos estatutos, a Direcção cai, e convocam-se eleições antecipadas.
2028: Reaparece Rui Costa, que ganha as eleições,  após muitos sócios perceberem que ele afinal não era assim tão mau, e quem lhe sucedeu afinal não era assim tão bom.
2029: O Benfica ganha o campeonato, e a contestação cala-se.
2030: O Benfica volta a perder o campeonato,  os grupos de WhatsApp do Manteigas voltam à acção, voltam a chumbar as contas em AGs manipuladas pela sua minoria jovem e lisboeta, e a Direcção cai outra vez.
2031: Toda a gente inteligente percebe, por fim, que o Benfica precisa de estabilidade. Rui Costa volta a vencer as eleições e os estatutos voltam a ser mexidos para acabar com o modelo de AG em vigor e com o estúpido artigo que prevê a queda dos órgãos sociais quando tal apetece a um chefe de claque.
2032: O Benfica volta a ser campeão e parte finalmente para uma década de hegemonia. 
Pena ter perdido mais 6 ou 7 anos em folclore autodestrutivo, sem o qual o início da hegemonia podia ter sido antecipado para 2026 ou 2027.
Isto não é o que eu desejo. É o que eu prevejo.

LISTA DE PREFERÊNCIAS

1° Rui Costa - estabilidade e confiança 
2° João Noronha Lopes - voluntarismo e incerteza
3° Luís Filipe Vieira  - passado e ressentimento
4° Martim Meyer - candura e ilusão 
5° Cristóvão Carvalho - demagogia e megalomania
6° João Diogo Manteigas - oportunismo e perigo

AFINAL GREGO É SIMPLES

Foi em grego que se escreveu a vitória do Benfica em Chaves. Dois grandes golos decidiram uma eliminatória em que a melhor equipa venceu com naturalidade.
Neste tipo de partidas há pouco a ganhar e muito a perder. As equipas menores fazem o jogo do ano, a equipa grande tenta cumprir o dever com o menor desgaste possível.  Ainda assim a exibição do Benfica deixou bons sinais quanto à condição física e psicológica dos jogadores depois da paragem.
Em Newcastle o jogo será com certeza diferente.  Embora o resultado possa (quem sabe?) repetir-se.
Individualmente o destaque vai, como é óbvio, para Pavlidis. Também para a boa exibição de Sudakov (que eu até pensava estar lesionado). E já agora para a estreia de mais um jovem: Ivan Lima.
Pela negativa tenho de falar de Samuel Soares. Gosto do miúdo,  adorava que tivesse uma carreira de sucesso, se possível na baliza do Benfica. Acontece que em grande parte dos jogos que lhe vi, notei imensas deficiências, que o bom jogo com os pés não pode iludir - até porque sou daqueles que acha que um guarda-redes tem de ser bom, em primeiro lugar, com as mãos. Espero estar errado,  e um dia poder engolir estas palavras,  mas por agora Samu não me parece guarda-redes redes para o Benfica. 
PS: Embora a ausência de VAR atenue desta vez a situação,  o Benfica entrou nesta Taça como saiu da anterior: a ser prejudicado pela arbitragem. Há um penálti claro sobre António Silva.

RECUPERAR A TAÇA ROUBADA

Mourinho diz, e bem, que falta uma Taça de Portugal ao Benfica. E nenhum sócio ou adepto deveria esquecer-se disso na hora de atirar pedras a Rui Costa pela alegada falta de títulos no futebol profissional. Pelo que fez dentro do campo, o Benfica seria, neste momento, detentor de todos os troféus nacionais à excepção do Campeonato (que, ainda assim, foi o que foi). A memória de muitos é curta, mas eu não vou esquecer essa tarde no Jamor.
Segue o meu onze para Chaves:

QUATRO ANOS EM NÚMEROS

FUTEBOL

CAMPEONATO
Sporting 2, Benfica 1, Porto 1

OUTROS TROFÉUS
Porto 6, Benfica 3, Sporting 2

CHAMPIONS
Pontos UEFA: Benfica 77.75, Porto 56.75, Sporting 56.50

MUNDIAL FIFA

FORMAÇÃO
Benfica 8, Sporting 2, Porto 0
(+ Youth League + Intercontinental)

FEMININO - CAMPEONATO
Benfica 4, Sporting 0, Porto 0

FEMININO - OUTROS TROFÉUS
Benfica 6, Sporting 2, Porto 0


MODALIDADES MASCULINAS

Benfica 9, Sporting 6, Porto 5

MODALIDADES FEMININAS

Benfica 15, Porto 3, Sporting 0

NOTA: dados apresentados do mais recente para o mais antigo

DO LADO CERTO

Quando vejo um absurdo painel televisivo de antibenfiquistas como Luís Vilar, Augusto Inácio e Bruno Andrade (já agora, pessoas qualificadíssimas para discutir o Benfica...) a bater em Rui Costa, percebo que estou do lado certo ao apoiá-lo.

É FÁCIL FECHAR O ASSUNTO

A exibição dos rendimentos de João Noronha Lopes foi um momento televisivo singular, que mostra que o candidato está mesmo empenhado em responder às dúvidas que se levantaram na sequência da notícia da TVI. Mas denotam também algum desespero, pois, quanto a mim, não era preciso ir tão longe.
Que Noronha Lopes é rico já eu sabia. É da minha terra, conheço a família - de resto, uma das mais ricas e tradicionais da cidade e da região, pelo menos desde os tempos do seu avô materno.  Que ganhou muito dinheiro na McDonalds também não seria difícil imaginar. Que o investiu, umas vezes melhor, outras pior, enfim, é a vida.
Por outro lado, em tese, entendo que o cargo de presidente do Benfica deva ser remunerado. Isto para evitar justamente que fique limitado a ricos - permitindo a qualquer sócio menos abonado poder também candidatar-se e desempenhar a função.
Dito isto, e como tanto Rui Costa como Luís Filipe Vieira já afirmaram prescindir da remuneração, não ficaria mal a um homem de acumulou 23 milhões de euros dela prescindir também. É claro que não é obrigado a isso, é claro que não seria pelo salário de um presidente que as contas do Benfica se iriam ressentir.. Era, obviamente, uma questão simbólica, que abonaria bastante a favor do candidato e da sua candidatura. 
Se Noronha Lopes quer mesmo fechar o assunto, fica o desafio: se não precisa (e não duvido que não precise) que o Benfica lhe pague, faça como Rui Costa e Vieira. Já vai ter carro, motorista, cartão de crédito, deslocações e estadias pagas, não me parece que necessite de mais nada.

COERÊNCIA, POR FAVOR

Independentemente dos meus cinquenta votos irem para Rui Costa (está decidido), sempre manifestei aqui algum respeito por Noronha Lopes. E se não for o "Maestro" a ganhar as eleicções, entendo que o mal menor será mesmo o "Rei dos Hamburgers". Vieira é passado e ressentimento, Manteigas é populismo e vaidade, Mayer e Cristóvão não contam para o Totobola.
Por isso mesmo gostava de ver Noronha assumir que prescindiria do salário de presidente caso viesse a ser eleito. 
Não é obviamente um salário, por muito alto que seja, que irá comprometer a saúde financeira do clube. Mas há imagem e, sobretudo, princípios. Não é coerente afirmar que acumulou riqueza (ipsis verbis) para investir milhões do seu bolso, quer na campanha eleitoral, quer em "startups" de futuro duvidoso, e depois, ao contrário de Rui Costa, pretender receber um salário milionário, estabelecido por uma comissão de remunerações por si escolhida, no âmbito de uma alteração de estatutos que promoveu e votou. 
Não tenho dúvidas que nenhum deles precisa do salário: um dispensa-o, outro não. É como os vice-presidentes da Assembleia da República: uns dispensam carro e motorista, outros não.
Quem quer ser respeitado tem de se dar ao respeito. E quando a bota não bate com a perdigota, abre-se espaço a toda a especulação - que acredito poder ser injusta, mas que o próprio podia e devia ajudar a dissipar, coisa que até ao momento não me parece que tenha conseguido fazer.

DEBATES, PARA QUE VOS QUERO?

José Sócrates e André Ventura. Dois verdadeiros "animais" em debates televisivos. Com uma verborreia imbatível e conhecimento profundo de todas as manhas da retórica. Em ambos os casos: credibilidade zero.
Faço esta analogia para justificar o meu cepticismo quanto a debates. Não prevalece quem tem mais razão, nem sequer mais argumentos. Sim, quem tem o dom da palavra, mais lábia, mais manha ou, para ser um pouco mais cáustico, quem tem menos vergonha.
Não admira que, nas eleicções do Benfica, sejam os candidatos advogados a procurar o debate. Foram treinados para isso. É a profissão deles, na qual a habilidade retórica é fundamental para defender os clientes - mesmo que sejam criminosos. Defendem a verdade e a mentira com a mesma argúcia. Isto se forem competentes.
Prefiro entrevistas, apesar de tudo conduzidas por jornalistas profissionais. Dir-me-ão que também aí a oratória conta. É verdade, mas o seu efeito acaba por ser um pouco dissipado, pois o contraponto não é directo, não há ninguém a falar por cima, a interromper, a não deixar argumentar, a irritar o oponente. Há naturalmente espaço para colocar temas difíceis, mas há também espaço (se o jornalista for bom) para o esclarecimento tranquilo e sereno, sem se reslavar para uma espécie de pugilismo verbal.
Houve debates históricos, na política e no futebol. Lembremos o Soares x Cunhal de 1975 (obviamente só o vi muito mais tarde), que deixou tiradas bastante famosas, mas ainda assim não muito relevantes para o que se passou a seguir (o 25 de novembro seria um movimento militar com outros protagonistas, nomeadamente Eanes e Otelo). No Benfica houve o célebre Vilarinho x Vale, e outras tantas frases que ficaram na história. Acredito, porém, que nessa eleicção foi muito mais decisivo o apoio de Eusébio (prestado no último dia de campanha) do que o debate, onde, diga-se, também Vale e Azevedo era craque.
Se houver debates vou naturalmente assistir, pois também gosto de entretenimento. Mas jamais tirarei conclusões sobre o perfil, qualidade ou credibilidade de um candidato pelo desfecho de um debate televisivo.

PORQUE VOTO RUI COSTA

A minha escolha, nas eleições do próximo dia 25, vai para Rui Costa. E as razões são as seguintes:
1) Não há presidentes perfeitos. Rui Costa cometeu erros, mas outro qualquer também os cometeria. Hoje em dia, não só no futebol, há uma intolerância ao erro que tende para o absurdo, e que pretende descredibilizar tudo e todos (por serem, naturalmente, imperfeitos...), para mudar não se sabe bem para onde, nem para o quê. As decisões tomam-se em contextos de incerteza, é fácil acertar à posteriori. Nem Rui Costa, nem qualquer um dos outros candidatos, irá acertar sempre. Mas acredito que, num próximo mandato, o actual presidente cometa menos erros do que os que cometeu até aqui, e, sobretudo, menos erros que qualquer outro candidato, com menor experiência, iria fatalmente cometer; 
2) Rui Costa é inteligente, é honesto e é de um benfiquismo à prova de bala. Quando o oiço falar, oiço uma pessoa genuína, que pode não ter esta ou aquela competência específica, mas fala de dentro, com verdade. Não precisa do Benfica para nada, pelo que só ali está porque gosta realmente do clube, e é por isso que quer ser ele a conduzi-lo, acreditando, genuinamente, que é capaz de fazer melhor;
3) De entre todos os candidatos é, de longe, aquele que mais percebe de futebol. Andou lá dentro muitos anos, ao mais alto nível, e anda em redor há outros tantos, sempre perto de jogadores e treinadores. Sabe falar a linguagem deles. Sabe identificar e resolver os problemas, nomeadamente ao nível do balneário. Tem a visão global do mundo do futebol que outro qualquer demorará anos até conseguir ter;
4) Os resultados desportivos (um campeonato, um taça da liga e duas supertaças) não foram aqueles que ele próprio esperaria, mas há várias atenuantes a ter em conta. Esta é a quarta época que Rui Costa preparou desde o início  - veremos como termina, sendo que até agora conquistou o único troféu que havia para conquistar. Nas outras três, numa delas foi campeão (2022-23), noutra (2024-25) só não o foi por interferências de terceiros (ou, se preferirem, por uma bola de Pavlidis ao poste), além de ter ganhado a Taça da Liga (quanto à Taça de Portugal, sabemos bem o que aconteceu), e só mesmo em 2023-24 o Benfica podia e devia ter feito muito melhor. É a única temporada que eu acho que foi verdadeiramente mal preparada, com duas aquisições falhadas (34M em Jurasek e Arthur Cabral), que não conseguiram, de todo, substituir Grimaldo e Gonçalo Ramos, e acabaram por ter relevo nos desequilíbrios da equipa. Ou seja, em quatro anos, um ainda não sabemos, outro foi bom, outro foi assim-assim e outro foi mau. Não é um registo que se queira ver repetido, mas está muito longe do fracasso e do drama que muitos querem fazer crer. Quanto a mercado, podemos falar também de Aursnes, Bah, Carreras, Enzo, Neres, Pavlidis, Akturkoglu, etc. E, voltando aos títulos, atente-se a que Fernando Martins e Ferreira Queimado só ganharam dois campeonatos, Jorge de Brito e Ferreira Bogalho só ganharam um, Damásio e Vilarinho não ganharam nenhum (nem falo de Vale e Azevedo). Houve grandes presidentes, quase unanimemente apontados como tal, que não venceram assim tantas vezes - em alturas em que até era mais fácil fazê-lo;
5) Se o balanço das temporadas nacionais é fraquito (com as atenuantes que atrás referi), o balanço internacional é brilhante, com épocas e resultados que levaram o Benfica até ao 10º lugar do ranking da UEFA. Dois quartos-de-final da Champions consecutivos era algo que não se via desde a década de sessenta. Seguiu-se uma eliminação por penáltis nos quartos da Liga Europa, e uns oitavos na Champions da época passada - o que, no novo modelo, em grau de dificuldade equivale mais ou menos aos antigos quartos. Também a presença no Mundial de clubes foi bastante honrosa. Este ano vamos ver o que acontece, sendo que estamos novamente na principal prova da UEFA, presença constante desde 2020;
6) A aposta nas modalidades foi reforçada, com um balanço de 27 troféus nas cinco principais modalidades masculinas (contra 17 nos quatro anos anteriores). Só no Andebol o Benfica não foi campeão durante este período. Mas, em contrapartida, alcançou o maior feito da história da modalidade em Portugal, ao vencer a Liga Europeia em 2022 (único clube português a conseguí-lo). O Basquetebol e o Voleibol foram genericamente dominadores, o Futsal recuperou o título na última época, quebrando o ciclo ganhador do Sporting, e no Hóquei em Patins já sabemos o que a casa gasta, nomeadamente em relação às arbitragens. É preciso também perceber que, ao contrário de outros momentos históricos, o Benfica tem-se batido, neste período, com dois rivais fortíssimos - em particular o Sporting, que não há muitos anos atrás só tinha Futsal e Andebol, e agora tem plantéis altamente competitivos em tudo. No Basquete, e ainda durante mais tempo no Vólei, chegou mesmo a não haver Porto nem Sporting;
7) Na formação o balanço é notável. Além dos jogadores lançados na equipa principal (António Silva, Tomás Araújo, João Neves etc), há que destacar a inédita conquista da UEFA Youth League em 2022, bem como o também inédito triplete (Juniores, Juvenis e Iniciados) alcançado na época passada, e que teimava em escapar ao clube. Nos últimos quatro anos, dos doze títulos em disputa o Benfica venceu oito!!!;
8) Não há palavras para descrever a aposta do Benfica no desporto feminino, e o respectivo impacto em termos de títulos e visibilidade. Fez mais o Benfica pelo sector feminino nos últimos anos, do que qualquer outro clube em toda a história do desporto português. Sem contar com Polo Aquático, Râguebi ou Atletismo, e falando apenas das cinco modalidades de pavilhão, contam-se, apenas neste mandato, 56 troféus. No Hóquei e no Andebol o Benfica ganhou todos os campeonatos, no Futsal e no Basquetebol perdeu apenas um. No Volei quebrou um jejum de cinquenta anos e é agora detentor do título. No Futebol feminino ganhou todos os campeonatos deste mandato, e conseguiu chegar aos quartos-de-final da Champions, para além de mais duas presenças honrosas na prova (esta época vamos ver);
9) Em termos financeiros, mesmo apanhando ainda com a pandemia, e pese embora o forte investimento feito no plano desportivo, o Benfica ainda assim dá lucros, e mantém uma situação económica saudável, mais saudável que qualquer um dos seus rivais, como atestam, por exemplo, os seus capitais próprios. Comprou bem e mal, mas vendeu quase sempre bem, com destaque para Darwin, Enzo, Carreras, Ramos ou Neves. É fazer as contas;
10) Rui Costa prometeu uma auditoria, fê-la. Prometeu discussão e alteração de estatutos, cumpriu. Além disso o Benfica não teve mais problemas com a justiça (este caso do German Conti é mero um fait-divers plantado com elevado sentido de oportunidade). Em termos institucionais, além de um notável aumento do número de sócios, de cativos, de receitas, tivemos um presidente de palavra, sério, que dignifica o clube, com uma postura de elevado desportivismo - entendendo-se que, a dada altura, e num novo tempo sem Pinto da Costa, tenha tentado levar esse desportivismo a um ponto para o qual o país desportivo ainda não estava preparado.
Globalmente, tenho muitas dúvidas que alguém fizesse melhor. E acredito mais que o Benfica volte a ganhar com o próprio Rui Costa do que com outro, necessariamente menos experiente e menos conhecedor do meio.
Os meus 50 votos têm pois destinatário. Que ele os saiba merecer.

ACABOU O MEDO CÉNICO

Conforme se vê no quadro acima, nos últimos doze anos o Benfica equilibrou totalmente as contas em jogos realizados no Estádio do Dragão. Exactamente quatro vitórias para cada lado, e quatro empates, com uma goleada também para cada um (embora os negros 5-0 tenham sido, naturalmente, mais expressivos).
Longe vai o tempo em que os encarnados entraravam no campo do FC Porto já derrotados. De 2014 para trás (desde 1977) vínhamos de um ciclo de 37 anos com 26 derrotas, nove empates e apenas duas vitórias. Era dramático, e mexia com a confiança da equipa em cada deslocação. Esse medo morreu. Falta inverter o ciclo e passar a ganhar mais vezes, como em Alvalade.
NOTA: também na Luz o ciclo de jogos frente aos portistas está equilibrado, com três vitórias, três derrotas e um empate nos últimos sete anos, depois de décadas de sofrimento.

VIVOS

Num "clássico" intenso, mas sem muitas oportunidades, o empate não podia ser mais justo.
O Benfica entrou melhor, e durante cerca de meia hora bloqueou quase por completo o adversário, definindo muito bem as zonas e os momentos de pressão. Viu-se o dedo de Mourinho, e o seu olho estratégico, por exemplo na forma como conseguiu "tirar" Froholdt do jogo.
Na ponta final da primeira parte o FC Porto chegou com mais perigo perto da baliza de Trubin, criando duas boas chances de marcar. Uma saiu por cima, noutra valeu Trubin.
A segunda parte foi parecida. O FC Porto mais pressionante, o Benfica muito solidário e muito concentrado, praticamente sem cometer erros. Houve uma bola em cada barra, de natureza diferente, mas ambas a cheirar a golo, e de resto muito luta, muita intensidade, mas sem que o marcador se alterasse.
Individualmente destaque para Enzo, Dedic e Lukebakio - enquanto durou. Mas toda a equipa esteve bem no plano estratégico,  no plano físico e, sobretudo, na concentração competitiva, que, diria, só teve um momento de falha, que quase ia dando golo a Mora. 
Não foi o resultado ideal, mas nesta partida era extremamente importante não perder, até pelo que aconteceu em Alvalade. Ultrapassou-se uma das jornadas mais difíceis de todo o campeonato, o Benfica continua sem derrotas e na luta pelo título. Agora é tempo de respirar. Haverá muita água a correr debaixo das pontes até Maio.
A arbitragem esteve em plano razoável. Houve dois lances de dúvida,  um em cada área, mas entende-se o critério de não assinalar vídeo-penáltis. Também a entrada sobre Lukebakio podia ter merecido outro cartão,  mas, enfim, para aquilo que já se viu noutros jogos, diria que Miguel Nogueira passou no teste.

JOGO CHAVE

Não é ainda decisivo, mas na verdade...é. A sete pontos do FC Porto e a quatro do Sporting, o campeonato ficará demasiado longe. Não impossível, como é óbvio, mas objectivamente distante. Se o Benfica jogasse sempre como o fez em Stamford Bridge, teria certamente ganhado ao Santa Clara, ao Rio Ave e ao Qarabag. Mas mesmo se jogar como jogou em Stamford Bridge, nem assim estou certo que isso dê para vencer no Dragão (como não deu em Londres), frente a um FC Porto em grande forma e supermotivado.
Um jogo parta gente grande, para gente que não comete erros. Vamos acreditar!

O HOMEM QUE MANDA NOS ÁRBITROS

Ex vice-presidente de Bruno Carvalho, que, diga-se, está a fazer um trabalho excepcional em prol da... do seu clube.

ATÉ DOMINGO NÃO HÁ RUIS COSTAS NEM NORONHAS

O jogo do Estádio do Dragão será de suprema importância para a época do Benfica. Dependendo desse resultado, o Benfica poderá situar-se a um simples ponto do primeiro lugar, ou, em caso de derrota, ficar já a sete pontos do FC Porto e a quatro do Sporting. Não interessa agora quem seja o presidente no dia 26 de Outubro. O que interessa é o Benfica que esse presidente irá herdar: um Benfica com as suas ambições intactas, ou um Benfica já demasiado longe do título.
A exibição de Stamford Bridge abriu espaço à esperança. Tem de ser confirmada nos próximos jogos, e, sobretudo, neste próximo jogo. O FC Porto tem estado imparável: realizou oito jogos oficiais, fez o pleno de vitórias, marcou vinte golos e sofreu apenas um (em Alvalade) . Estará com certeza com os níveis máximos de motivação e confiança. Será um desafio à capacidade física e mental do Benfica desta altura.
Num momento como este, pelo menos aqui, pelo menos até domingo, não irei falar de eleicções. Na paragem para a selecção haverá muito tempo para as discutir.
A hora não é para divisões. Independentemente das questões políticas, neste momento devemos estar todos em redor de José Mourinho e dos jogadores.
Benfiquistas de todo o mundo, uni-vos!  Há um "Clássico" para vencer!

INGLÓRIO

Aquela que foi, provavelmente, a melhor exibição da época, merecia outro resultado. 
O Chelsea é melhor, tem melhores individualidades, jogava em casa, é campeão do mundo, mas em nada foi superior ao Benfica nesta noite - beneficiando de um autogolo para conquistar os três pontos.
Se, apesar da vitória, saí preocupado do jogo com o Gil Vicente, hoje, apesar da derrota, fico com uma sensação de optimismo, que terá naturalmente de ser confirmada no próximo domingo.
Afinal, mesmo cansada, mesmo sem férias, esta equipa sabe jogar futebol. 
Quero acreditar que Mourinho tenha já conseguido mexer com algumas dinâmicas, e certamente mexeu com a confiança dos jogadores. Em Stanford Bridge, diante do adversário mais forte que teve até agora pela frente, viu-se uma equipa a léguas da triste exibição realizada com o Qarabag, e de outras tristes exibições realizadas recentemente. E viram-se jogadores muito mais seguros daquilo que tinham a fazer em campo. Até Rios, que foi infeliz no lance capital, mostrou, noutros momentos, um pouco daquilo que pode fazer. Faltou apenas eficácia para dar justiça ao marcador.
Foi pena. 
Agora há que agarrar aquilo que se fez de bom, e esperar que no Dragão apareça a pontinha de sorte que faltou em Londres.
A arbitragem foi caseirinha, e um lance na parte final, na área do Chelsea, deixou bastantes dúvidas. A expulsão podia também ter acontecido antes. Enfim, na Champions já se sabe como as coias funcionam.
PS: tantas vezes tenho criticado alguns grupos de adeptos, que hoje é justo sublinhar o fantástico apoio dado à equipa. Impressionante!

NA RETRANCA

Friamente, não há muito a esperar de Stanford Bridge a não ser tentar obter um pontinho. Nessa perspectiva, proponho um onze bastante conservador, com dois alas mais defensivos. Hesitei entre Sudakov e Lukebakio, pois não sei se este consegue fazer uma posição mais central. De resto, ainda não ficou provado, pelo contrário, que Rios traga mais à equipa do que Barreiro - que pelo menos corre desalmadamente durante jogos inteiros, pressionando à esquerda, pressionando à direita, perturbando a saída de jogo do adversário.

É ISTO

Dois lances iguais, golo do Sporting no Estoril validado em fora-de-jogo posicional, golo do Benfica em Alvalade anulado por fora-de-jogo posicional.
Mais dois lances iguais. Pisão de Otamendi no defesa do Rio Ave, golo anulado ao Benfica na Luz. Pisão de Hjulmand a Dahl dentro da grande área do Sporting, cartão amarelo a Dahl por simulação, no Jamor.

Não é preciso ir a Matheus Reis, nem a penáltis cometidos com o ombro de Otamendi. A verdade é que já vão duas Taças de Portugal roubadas (o lance de Di Maria foi decisivo na meia-final de 2024), um campeonato subvertido, e outro a caminho de o ser.
Querem que eu faça críticas ao Rui Costa? Aqui vão elas: falou tarde demais, e andou com paninhos quentes demasiado tempo. Se outro faria melhor? Isso já não sei.

 

AS SONDAGENS

Já todos sabemos que valem o que valem. 
Como meros indicadores circunscritos a um determinado momento têm a sua utilidade, embora sejam extremamente difíceis de fazer em populações alvo pequenas, como um clube de futebol ou um concelho (as autárquicas vão ser uma dor de cabeça para as empresas do ramo). São mais fáceis quando a população é de dez milhões, e se consegue uma boa amostra, como em eleições legislativas ou presidenciais.
Particularmente a sondagem da Intercampus, feita neste último fim-de-semana, parece-me relativamente credível, dentro das condicionantes que acima referi. Não porque tenha alguma simpatia ou antipatia pela empresa que a realizou à porta do Estádio da Luz, mas simplesmente porque...participei nela. 
Respondi a várias perguntas, algumas delas clicando num tablet sem a funcionária ver a minha escolha. Em quem votaria, se não pudesse votar nesse qual seria a minha segunda escolha, a última escolha. Qual a minha idade, onde vivia, grau de escolaridade, quantos anos de sócio. Quem, independentemente da minha preferência, eu achava que ia ganhar. Quais as características que mais valorizo num candidato. Etc...
Pode ter havido mobilização de determinadas candidaturas apelando, via redes sociais, à participação na sondagem, subvertendo-a. Mas, mesmo não sendo especialista na matéria, tecnicamente pareceu-me bem feita.
Os resultados também não me surpreenderam. As eleições do Benfica serão decididas entre Rui Costa e Noronha Lopes - e ainda bem.
Quem irá ganhar? É fácil de prever que os votantes em Manteigas, em nome da mundança, votem em Noronha Lopes, e acredito que os de Vieira, em nome da estabilidade, votem em Rui Costa (exceptuando o próprio Vieira...). Os restantes candidatos têm votações residuais. Pela sondagem, numa segunda volta Noronha teria então, grosso modo, cerca de 50%, e Rui Costa cerca de 40%, com 10% pendentes. Estimo que a margem de erro ande pelos 5%., o que deixaria a questão em aberto.
O que irá decidir tudo? Basicamente os próximos resultados da equipa de futebol. Sobretudo um dos resultados: o do FC Porto-Benfica. Em caso de vitória no Dragão, acho que Rui Costa conseguirá convencer muitos indecisos a darem-lhe uma segunda oportunidade. Se a equipa se afundar (recordo que, perdendo no Dragão ficará já a sete pontos da liderança), o estado de alma dos benfiquistas será mais negativo e, naturalmente, mais propenso à mudança.
Como sempre, é a bola que bate no poste que decide tudo. Foi assim no último campeonato, e se Pavlidis tivesse marcado aquele golo ao Sporting, agora talvez nem sequer houvesse candidatos: Rui Costa ganhava com os mesmos 84% que teve nas outras eleições, quando não apareceu mais ninguém.

ASSEMBLEIAS ANACRÓNICAS

O Benfica tem seis milhões de adeptos e 400 mill sócios espalhados pelo país e pelo mundo. Porém, algumas das decisões mais estruturantes da vida do clube são tomadas por umas quantas centenas de pessoas, facilmente capturadas e/ou manipuladas em grupos organizados (claques ou malta dos whatsapps), na sua larga maioria circunscritos geográficamente à região da grande Lisboa, e etariamente a um grupo que eu estimariaa entre os 18 e os 35 anos - que foram os meninos da mamã e do papá, apanharam uma escola facilitista, agora fazem birra ao não perceberem porque é que o mundo, afinal, não é deles, e por isso querem deitar tudo abaixo.
Como diz José Manuel Delgado em "A Bola", e como eu também já aqui havia escrito, este formato de Assembleia-Geral, criado nos tempos de Cosme Damião, é hoje totalmente anacrónico, impróprio, perigoso e apenas serve os propósitos de quem pretende desestabilizar. Não se analisam contas, nem regulamentos: protesta-se, reclama-se e tenta-se, à força de gritaria e não só, impôr pontos de vista que não representam minimamente o benfiquismo real, e cuja maior ou menor impetuosidade advém, numa visão tão estreita quanto o nível de inteligência médio desses grupos, dos últimos resultados da equipa de futebol. Servem, por outro lado, de alimento a horas e horas de directos televisivos e de videos colocados na internet que envergonham o benfiquista comum. Agora é o Rui Costa e o Vieira. Deixem Noronha Lopes chegar à presidência, e haver uma AG após uma ou duas derrotas (sim, porque com Noronha o Benfica não vai ganhar os jogos todos, isso só acontecerá, claro, com o Manteigas...), e logo se verá o que acontece. Se estiver vivo e de boa saúde, cá estarei para lamentar.
Imagine-se o que era o Orçamento de Estado, ou para ir ainda mais longe, uma revisão da Constituição, serem votados no Meo Arena, com a porta aberta a todos os portadores do cartão de cidadão. Já estou a ver os grupos de apoio a X e a Y mais activos nas redes sociais (verdadeiros canos de esgoto do mundo moderno) a transformarem maiorias virtuais em votos reais, para imporem as decisões mais aberrantes que passassem pelas suas iluminadas cabeças.
Estas AG são uma espécie de bancada de claque, e nenhum dirigente do Benfica, passado, presente ou futuro merece ter de passar por elas. Há hoje mecanismos que permitiriam aos sócios, a todos os sócios, votar e aprovar (ou reprovar) as contas, os regulamentos e tudo o que tenha de ser votado num clube democrático. Assim, estamos perante um circo, que de democracia não tem nada. E que, de resto, já vimos também acontecer no FC Porto e no Sporting - em alguns dos casos com contornos ainda mais graves.
O que espero, ou melhor, não espero, exigo! é que a escolha do presidente seja feita por todos os sócios, com voto electrónico ou com mesas de voto em todas as casas do Benfica do país e do mundo. Aqueles que não aceitam o voto electrónico que tratem de arranjar delegados para todas essas mesas. O Benfica não pode, nem vai, ficar entregue a grupetos que só o enxovalham, e iguais aos grupetos que noutros momentos enxovalharam os clubes rivais. Essas gentes têm muito mais a ver uns com os outros, do que cada um deles com o clube do qual dizem ser. Com o meu Benfica não têm nada.

EM FOCINHO DE CÃO

É um jovem advogado à procura de notoriedade e de ganhar nome na praça. Bem falante como quase todos. Vaidoso como poucos. Mas com tanta capacidade para ser presidente do Benfica quanto eu - e estou a ser modesto.
Decidiu pescar votos no caixote do lixo do Benfica, na malta dos grupos de whatsapp e das redes sociais, junto daqueles que conspurcam as Assembleias Gerais, e alguns dos que atiram tochas e petardos para as bancadas adversárias. Daqueles que, em suma, envergonham o benfiquismo.
Talvez desse um bom chefe para a claque. Para presidente, Deus nos livre!

É A "EXIGÊNCIA", ESTÚPIDO!

Se alguém quiser voltar a questionar-me porque motivo defendo os representantes do clube em (quase) todas as circunstâncias,  as imagens da (uma vez mais) vergonhosa AG são, infelizmente, uma boa resposta.
É aquele o resultado de um tipo de contestação em que cada um acha que o Benfica é apenas dele.
Vivemos tempos em que, muito por via das redes sociais, a estupidez perdeu a vergonha. Se acontece na política do país e do mundo, teria de acontecer num clube popular como o Benfica. Se a Assembleia da República está hoje, ela própria, cheia de um bando de arruaceiros, como esperar que uma AG do clube mais popular do país não o esteja?

SALVARAM-SE OS PONTOS

O jogo desta noite não foi muito diferente dos do Santa Clara, do Qarabag, do Rio Ave, como também da Reboleira ou de Alverca. Uns o Benfica ganhou de aflitos, outros não.  Desta vez os três pontos ficaram em casa, com muita sorte e demasiado Trubin.
Aquilo que Mourinho disse no fim, sobre a zona cinzenta na identidade de uma equipa ainda com ideias cruzadas entre dois treinadores, viu-se bem em campo - quer na falta de automatismos, quer na desorganização generalizada, com muitos jogadores sem saberem, sequer, para onde correr.
É preciso dizer também que o Gil Vicente foi a melhor equipa que os encarnados até agora defrontaram no campeonato. Tanto e tão justificadamente aqui critico a liga portuguesa e o seu desfile de miseráveis exemplos de mediocridade,  como sou obrigado a reconhecer que esta equipa de César Peixoto é das poucas que veio à Luz verdadeiramente jogar futebol.
Juntando a isso um Benfica cansado e animicamente perturbado com os últimos resultados, e tivemos uma partida esquisita, em que os minhotos (enfim, o clube minhoto) dominaram em largos espaços, e mereciam ter obtido outro resultado - bem ao contrário de Santa Clara e Rio Ave, sobretudo os açorianos (enfim, o clube açoriano), que nada fizeram para lhes cair um pontinho do céu. 
É assim o futebol. 
Mais uma vez a arbitragem foi protagonista (e isso já não devia ser o futebol), empurrando habilidosamente o Benfica para o chão. Critérios obtusos, uma decisão incompreensível no lance que origina o golo do Gil, amarelos por mostrar de um lado, amarelos em excesso do outro, e por fim sete minutos de compensação que ninguém percebeu.
O Benfica não ficou calado, nem podia ficar. São já demasiadas interferências de jovens árbitros de um qualquer aviário que não parecem trazer nada de novo face ao que estávamos habituados.
Sobra a vitória,  que era extremamente importante. Que era o mais importante. E no fim da partida, muita gente na bancada hesitava entre assobiar mais uma exibição cinzento escuro, ou dar largas ao alívio por poder enfim celebrar os pontos, depois de três traumas seguidos no Estádio da Luz.
Individualmente destacaria Pavlidis e Trubin, o primeiro pelos golos que marcou, o segundo pelos que evitou. Tudo o resto foi muito fraquinho, até mesmo elementos que já haviam mostrado qualidades, como Dedic e Sudakov. Dahl começa a ser um problema, e Schjelderup outro. Que saudades de Carreras e Di Maria...
Agora segue-se Stanford Bridge. O primeiro jogo da temporada em que o Benfica não é favorito e parte como outsider. Uma oportunidade excelente para virar a página, num estádio que Mourinho conhece bem. Será que há pernas e cabeça para isso? Enfim, qualquer pontinho valerá ouro.

UM JOGO INGRATO

Este será um daqueles jogos em que o Benfica tem muito a perder, e pouco a ganhar. Na verdade, com os dois empates cedidos, já anda a correr atrás do prejuízo. A seguir desloca-se ao Dragão, para defrontar um FC Porto muito mais forte que o da época passada. Não pode, de modo algum, perder pontos com o Gil Vicente. E mesmo ganhando aos minhotos, estará sempre em risco de, no caso de derrota no Dragão, ficar a uma distância de sete pontos - que não sendo irrecuperável, já começaria a ser um poço demasiado fundo para escalar.
Diria que, para recuperar a confiança, uma simples vitória não chega. Será preciso uma exibição convincente. Estará a equipa em condições físicas e anímicas para o fazer? Veremos.
É de facto uma lástica que, com o calendário que tinha, o Benfica se tivesse colocado nesta situação. Mesmo jogando o pouco que jogou, podia estar nesta altura só com vitórias, no Campeonato e na Champions. 

O QUE É UM PROJECTO?

Entre os candidatos à presidência do Benfica, uns dizem que têm um projecto, outros dizem que os adversários não têm projecto, e eu pergunto: o que é, exactamente, um projecto?
Ora no Benfica parece-me que não há outro projecto que não seja ganhar títulos. É esse o único desígnio do Benfica.
Apostar na formação? Nenhum candidato negará essa aposta. Mas nem sempre sai de lá um João Neves. Há "fornadas" melhores, e outras menos boas. La Palice poderia dizer que se deve apostar nos jovens quando têm qualidade. É isso.
Qual é o projecto do Sporting? Qual é o projecto do FC Porto? Qual é o projecto do Real Madrid?
Ou seja, um "projecto", no contexto futebolístico, não passa de uma palavra usada para fazer propaganda. Não é nada. É conversa fiada.
O único projecto que existe no Benfica é: ganhar! Umas vezes consegue-se, outras não.

O MITO DA EQUIPA DE MILHÕES

Acima está uma foto do onze que goleou o Atlético de Madrid, há mais ou menos um ano atrás. Da equipa titular sairam praticamente metade dos jogadores (a título de exemplo, só quatro foram utilizados com o Rio Ave). Além destes, saíram muitos mais. Uns melhores, outros piores, outros assim-assim. Uns mais importantes, outros quase irrelevantes. Considerando todos os que começaram a época passada, vimos uma debandada de 25 jogadores, o que dá um plantel inteiro (além do treinador). Então vejamos:
ANDRÉ GOMES - Alverca
BAJRAMI - Lucerna 5M
CARRERAS - Real Madrid 50M
GUSTAVO MARQUES - Bragantino
FLORENTINO - Burnley 26M
KOKÇU - Besiktas 30M
RENATO SANCHES - Panathinaikos
HUGO FÉLIX - Tondela
RAFAEL LUÍS - Estrasburgo
MARTIM NETO - Elche 1,5M
DI MARIA -Rosário Central
AKTURKOGLU - Fenerbahce 22,5+2,5M
BELOTTI - Cagliari
AMDOUNI - Burnley
ARTHUR CABRAL - Botafogo 12+3M
TIAGO GOUVEIA - Nice 8M
GUSTAVO VARELA - Gil Vicente
TENGSTEDT - Feyenoord 6+1M
BESTE - Wolfsburg 8+1,5M
ROLLHEISER - Santos 11M
MARCOS LEONARDO - Al Hilal 40M
JOÃO MÁRIO - Besiktas 2M
MORATO - Nottingham Forest 17,8M
KABORÉ - Wrexham
GERSON SOUSA - Kifisias
Se somarmos mais 13 milhões de direitos na transferência de Gedson, 500 mil euros na de Darwin e 6 milhões pelos objectivos cumpridos de João Neves, chegamos ao valor que o Benfica encaixou com este desinvestimento desportivo: cerca de 260 milhões de euros. Vou escrever por extenso e em maiúsculas: DUZENTOS E SESSENTA MILHÕES DE EUROS!
A equipa de milhões é pois um mito. Só se for de jogadores a saírem e milhões a entrarem nos cofres. Este é, pois, um Benfica mais fraco que o da época passada, mas também bastante mais baratucho.
Se vai ganhar algum título, ninguém sabe. Mas, por favor, não digam que investiu milhões, nem que é uma equipa de milhões. É mentira!

UM PROBLEMA CENTRAL

Veio como o primeiro grande reforço de um novo Benfica, para trazer ao meio-campo encarnado critério, rigor, músculo, compromisso e talento, substituindo um Kokçu que apenas tinha a última dessas virtudes. Foi a contratação mais cara de sempre do Benfica, e, creio, do futebol português (perdoem-me se estou errado, mas não me apetece pesquisar os números dos outros). Ao contrário da maioria dos colegas, chegou com a sua temporada bilógica a meio, o que faria supor um rendimento imediato. A verdade é que já lá vão doze jogos, e Richard Rios continua um redondo zero.
Joga demasiado devagar, erra passes como ninguém, nunca está no sítio certo, perde quase todos os duelos excepto quando faz falta - já fez algumas em zonas proíbidas e quando as devia fazer não as faz. Vou começando a ter alguma falta de vista, e talvez seja por isso que passo minutos a fio sem sequer o ver em campo. Vejo, sim, espaços onde ele devia estar e não está. Ultimamente contagiou Enzo Barrenechea (esse, com o cabelo amarelo, facilita o meu GPS), que iniciara bem a temporada e, jogo a jogo, tem vindo a cair paulatinamente na letargia errática do parceiro do lado.
O Benfica tem um bom guarda-redes, tem bons centrais, adquiriu um excelente lateral-direito, o lateral-esquerdo é fraquito mas cumpre, e tem bons avançados. O que falta sobretudo a este Benfica? Claramente um meio-campo sólido e dinâmico, que ligue o futebol da equipa e o torne coerente. Que defina os ritmos adequados a cada momento. Que faça andar para a frente quando necessário, e saiba conter  resultados vantajosos evitando aflições. Quem é o elemento central desse meio-campo? Pois é. A verdade é dura mas cristalina.
No passado recente, Weigl e Kokçu foram, também eles, contratações caríssimas, e não cumpriram aquilo que deles se esperava. Um até era simpático mas jogava como uma bailarina, ou outro era talentoso mas não estava para se chatear e trazia tiques de prima-dona. Está naturalmente por fazer um balanço definitivo sobre o que vale Rios, e o que pode trazer de bom à equipa. Mas por agora estou, pelo menos, tão preocupado como estava quando vi as primeiras actuações do alemão e do turco atrás citados. E devo dizer que não acredito muito em períodos de adaptação, sobretudo quando se estendem para lá de dois ou três jogos. Falando apenas de sul-americanos, lembro Enzo Fernandez e, por outro lado, Everton Cebolinha - cujo período de adaptação nunca chegou a terminar.
O povo costuma dizer que aquilo que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Rios começou por dar nas vistas num festival de música, ao qual foi à revelia do clube, mentindo sobre o motivo da saída nocturna. A polémica podia ter-lhe espicaçado o orgulho, mas não. A cada jogo, parece mais distante daquilo que dele se esperava. Naturalmente a confiança vai-seressentindo, criando um ciclo vicioso do qual só ele próprio poderá saír. Se é homem para isso? Vamos ver. Por agora punha o Barreiro no onze titular, que não sendo um artista, corre que se farta, pressiona em todo campo e às vezes até aparece a finalizar. Seria um remendo, mas antes um remendo que um buraco nas calças.
Tal como as coisas estão, não me chocava que se tentasse revender Richard Rios para a América do Sul já em Janeiro, recuperando, pelo menos, parte do investimento efectuado. Não sou scouter, nem sei onde pode o Benfica encontrar um médio como, por exemplo, ...Hjulmand - que chegou ao Sporting por pouco mais de metade do preço do colombiano. Mas com este meio-campo, não acredito honestamente que o Benfica seja campeão.

COMO É POSSÍVEL?

É um filme já demasiadas vezes repetido. O Benfica em vantagem, sofre golos nos descontos. Nas Aves, com o Arouca, no Jamor, com o Santa Clara e agora com o Rio Ave, só para não ir mais atrás no tempo (Chaves, Catamo, Matheus Nunes, Talisca, Kelvin etc). Se não houvesse descontos, creio que o Benfica teria mais dois ou três campeonatos no seu palmarés.
Vantagens que deram muito trabalho a conseguir, neste caso arrancada a ferros e a Lukebakio, são desperdiçadas por desconcentrações tardias, em alturas em que não podiam, de todo, acontecer. Sofrer golos em contra-ataques aos 91 minutos, quando se está em vantagem, é de uma candura inqualificável.
Uma vez aceita-se, duas ou três,  enfim, mas quando se torna um padrão, começa a intrigar. Começa a não haver desculpa. Estamos perante um padrão, que custou o campeonato e a taça da época anterior, e pelo andar da carruagem, começa também a comprometer a presente.
O Benfica deu meia parte de avanço.  E logo aí começou a complicar a sua vida. Mas pelo que fez na segunda metade, não merecia tão cruel facada. Ou merecia, por ter sofrido um golo assim, naquele momento.
Houve coisas boas neste jogo, que o resultado naturalmente deitou para o lixo. Lulebakio, por exemplo, foi uma boa surpresa. A dinâmica colectiva em certos momentos da segunda parte também foi interessante. Obviamente houve coisas más. E eu não queria, mas tenho de falar novamente de Rios, que agora parece estar a contagiar o seu parceiro de meio-campo (Enzo), que começou bem a temporada, mas, jogo a jogo, vai-me fazendo sentir saudades de Florentino.
Além destes dois, que ocupam uma zona nevrálgica do terreno,  também é de sublinhar a má forma de Dahl e de Schjelderup. Dedic e Pavlidis também não voltaram bem das pausas. Os centrais têm dias. É demasiada gente a meio gás ou a gás nenhum.
É preciso também colocar o dedo na ferida: esta equipa não é assim tão boa, e está mais fraca que a da época passada. Desde logo falta Di Maria, que resolvia sozinho um jogo em cada três.  Depois, não há Carreras nem Akturkoglu, que eram elementos diferenciadores a defender e, com assistências e golos, atacar.  Florentino já mencionei. E até Kokçu, com todos os seus problemas, era ainda assim melhor do que Rios.
Foram mais de 100 milhões em vendas, que, pelo menos no imediato, não se vê que tenham sido colmatadas.
O Sporting ficou privado de um único titular e manteve o treinador. O FC Porto reforçou-se muito e bem. Mesmo com Mourinho, não será fácil este Benfica vencer o campeonato. Não pelos quatro pontos, mas pelas insuficiências referidas, e que têm sido escondidas atrás da falsa narrativa dos investimentos milionários e da equipa de milhões. Como aqui demonstrei na altura, entre o deve e o haver, o Benfica vendeu mais do que comprou. Está agora a ver-se que não comprou assim tão bem, sobretudo se olharmos para o meio-campo e para a lateral esquerda (Dahl era suplente de Carreras).
Desta vez não foi pelo árbitro que o Benfica não ganhou. Mas ainda assim, a actuação de mais um senhor desconhecido deixou muito a desejar, complicando um jogo que até era fácil de apitar. O Rio Ave limitou-se a não deixar jogar. Apenas mais um nesta fantástica liga portuguesa, cujas receitas querem dividir.
E agora? Não se pode mudar de plantel. Não se vai mudar de treinador. Vão dizer-me que se pode mudar de presidente. Quem me dera que fosse isso a fazer do Benfica campeão. Obviamente não fará. O que é pena. Acreditemos que Mourinho ainda faça milagres.

PORQUE NÃO?

É claro que Mourinho não vai mexer tanto, pelo menos nesta fase. Mas acho que, por diferentes motivos, Dahl e Rios estão a precisar de banco. E o próprio António Silva, que começou tão bem a temporada, tem parecido menos seguro nas últimas partidas, e dói ver Tomás Araújo de fora.

OS PONTOS

Nas últimas quinze jornadas do último campeonato, Benfica e Sporting não perderam qualquer jogo: empataram entre si, empataram ambos com o Braga e com o Arouca, os leões empataram ainda com o Porto e com o Aves. Venceram os outros 22 jogos que disputaram.
Nesta temporada, acrescentando aqui um renovado FC Porto, os três grandes ganharam todos os jogos que disputaram com as restantes equipas, com uma única excepção: o golo do Santa Clara no último minuto na partida da Luz. Marcaram quarenta golos, sofreram quatro - marcaram, pois, dez vezes mais do que sofreram. Não se contabiliza aqui, naturalmente, o Sporting-FC Porto.da 4ª jornada.N
Num campeonato de 34 jrondas, os jogos com Sporting, Porto, Braga e Guimarães representam 23% do total. Ora nos seus últimos dois títulos, o Benfica teve de vencer 81% dos jogos para se sagrar campeão.
Isto revela duas coisas. A primeira é que a liga portuguesa é miserável, não tem qualquer lastro de competitividade, e não a tem porque a maioria dos clubes (?) são inexistências sociais e desportivas. Só Benfica, Sporting, Porto, Braga e Guimarães são verdadeiros clubes desportivos. O resto, com uma ou outra excepção, são SAD fantasma, sem adeptos, sem história, sem instalações condignas, sem relvados decentes, sem representatividade social e/ou geográfica, repletas de jogadores estrangeiros de refugo, e onde treinadores espertalhões se especializam no anti-jogo, e investidores arrivistas tratam de ganhar o seu. por cima e por baixo da mesa. Ao contrário do que se proclama, e possa parecer aos mais incautos, uma redistribuição de receitas seria uma espécie de Robin dos Bosques ao contrário: tirar dinheiro dos bolsos do povo que vai aos estádios e apoia os seus clubes (os adeptos dos cinco clubes que mencionei, e que serão 98% dos portugueses que gostam de futebol), para o entregar a investidores vindos não se sabe de onde, mas sabe-se demasiado bem porquê. 
A segunda coisa é que, num campeonato como este, perder dois pontos (ou seja, um simples empate), pode tornar-se dramático. Vu-se no Benfica-Arouca na época passada, por constraste com um Sporting-Gil Vicente que os leões venceram no último suspiro.
É pertinente lembrar isto numa semana em que, no espaço de três dias, há um Benfica-Rio Ave e um Benfica-Gil Vicente. Acresce que, na jornada seguinte, disputa-se um Porto-Benfica. Neste simulacro de liga, os encarnados já esbanjaram dois pontos. Eu diria que, na primeira volta, não podem mesmo vacilar mais.

MELHOR, MUITO OBRIGADO

Há exactamente 25 anos Mourinho entrou no Benfica a perder. Entraria também no FC Porto a empatar. Desta vez, num campo difícil e perante mais um adversário fechado, entrou a vencer.
A tremideira evidenciada pelos jogadores do Benfica no jogo europeu viu-se, também, ao longo da primeira parte nas Aves. A diferença fundamental foi que, com apenas um golo, a equipa libertou-se e realizou uma bela segunda parte, obtendo, com naturalidade, uma vitória clara e, a partir de certa altura, tranquila.
Mourinho terá orientado um treino. Talvez dois. Era impossível transformar tudo em tão pouco tempo. O dedo de que ele próprio falou foi a opção por dois pontas de lança, colocando Ivanovic no onze, por troca com Schjelderup - que de facto estivera apagadíssimo nas últimas partidas. Correu bem pois o croata fez uma excelente exibição,  coroada com um merecido golo (podiam ter sido dois, não fosse o cruzamento de Dahl ser feito ligeiramente fora do campo). Tanto quanto me parece, a ideia de Mourinho parece apontar para um losango, com Enzo, Rios, Aursnes e Sudakov. Veremos se os próximos jogos o confirmam. Mas a maior nota de destaque foi para a forma como a equipa se soltou quando se apanhou em vantagem, lembrando que, quer frente ao Santa Clara, quer frente ao Qarabag, o Benfica também estivera em vantagem e nem assim se tranquilizou.
O que me agrada mais, neste momento, é a união em torno do treinador e da equipa. Confesso alguma surpresa ao verificar que Mourinho,  mesmo nesta fase da sua carreira, é tão consensual entre os benfiquistas, representando a poderosa injecção anímica de que todos precisávamos. Que mais não seja por isso, valeu a pena a troca. Por alguma coisa se chama, às trocas de treinador, "chicotadas PSICOLÓGICAS ". 
De notar ainda que, na conferência de imprensa, Mou começou já a preparar a deslocação ao Dragão, procurando subtilmente amaçiar o rival.
Na terça-feira há mais. A Luz vai encher, e mais uma vitória levará a equipa do Benfica para uma zona de maior conforto, deitando a crise definitivamente para trás das costas.